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LIBERDADE EM PI(Y)NDORAMA PARTE 2

O projeto da Antropofágica para a 16ª edição da Lei Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo é um projeto de continuidade que faz parte de uma trilogia sobre a liberdade no Brasil, tendo como base os três períodos (do ponto de vista didático) da história do país: o período colonial, o Brasil Império e a República. No projeto passado nossa pesquisa se ateve ao período colonial que, dentre muitas atividades, originou a peça Terror e Miséria no Novo Mundo parte 1: Estação Paraíso. No presente pro- jeto vamos nos deter sobre o material do período do Brasil Império.

 

Os projetos de pesquisa da Antropofágica são divididos em duas linhas principais que norteiam o andamento do tra- balho: o princípio digestivo e o tema que nos propomos a discutir.


O princípio digestivo, por analogia biológica, funciona como as enzimas digestivas, ou seja, são as maneiras como olhamos, trabalhamos e fazemos a digestão do material ao qual vamos nos debruçar durante meses.

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Neste princípio di- gestivo alguns estudos (enzimas) e referências guiam e aju- dam nas reações “químicas” necessárias para devorar o Im- pério. Dentre as milhares de possibilidades enzimáticas, neste projeto nos propomos a estudar o Império usando o épico, a carnavalização, o teatro de Tadeusz Kantor e a antropofagia.

 

Trataremos da precarização do trabalho, tendo como exemplo todos os trabalhadores transeuntes, como carroceiros, pipoqueiros, vendedores de frutas, etc. Este será um canal de abertura com uma categoria com a qual pretendemos dialo- gar, os catadores de recicláveis.

 

Esta pesquisa é predominantemente colaborativa, tanto no que se refere à criação artística quanto nas ações que en- volvem a participação das comunidades e movimentos sociais da cidade. Assim, construiremos a segunda peça da trilogia, com dramaturgia própria como fizemos no projeto anterior.

 

O outro veio importante do projeto é a manutenção do que chamamos de “metabolismo antropofágico”, que, em resu- mo, é o conjunto das relações de vivência e trabalho estabelecido pelos vários núcleos (cênico, musical, de formação etc.). Chamamos de metabolismo para dar conta da complexidade e especificidade de nossa estrutura. A Antropofágica é com- posta de núcleos que pensam juntos o projeto e interagem na sua realização.

 

O núcleo mais antigo da Antropofágica é o ATP, com ato- res e diretor que trabalham em funções artísticas e adminis- trativas. Outro núcleo fundamental é o de música, que tem trabalhado com os mesmos músicos junto com o núcleo ATP desde o início do grupo, pensando a música nas narrativas cênicas e em sua colaboração para a pesquisa teatral. Os

 

“O denominador comum das criações antropofágicas é o uso livre de todos os modelos culturais disponíveis, não importando a sua origem” - David George

 

Além das enzimas que auxiliam na digestão, temos o material bruto, o tema da pesquisa: o Brasil Império. Este material vem de fontes diversas como livros, pesquisa iconográfica, debates com pesquisadores-colaboradores, ciclos de estu- dos sobre o período com participação do público, entrevistas etc.

 

Outro aspecto importante do projeto é a construção de uma carroça que circulará pela cidade com intervenções ar- tísticas, divulgando nossas ações e ampliando a participação popular em um projeto para a cidade. A carroça não é me- ramente um elemento formal e estético desligado das duas vertentes da pesquisa (o princípio digestivo e a pesquisa do tema). Ela se refere diretamente aos dois. No princípio digesti- vo ela dialoga com a estética de Kantor e seus objetos móveis com rodas. Dialoga com Brecht, especialmente no texto Mãe Coragem, que temos estudado para falar especificamente do período bélico do Império.

 

Na pesquisa do tema encontramos o eixo principal da car- roça, que simboliza o estudo dos tropeiros - muito presentes na vida social e econômica do Império - e sua ligação com quem identificamos como “tropeiros contemporâneos”: os catadores de papelão e materiais recicláveis. Partindo disso, atores também tocam e cantam e por isso o núcleo de música também trabalha no aprimoramento musical da Antropofágica.

 

Neste processo de metabolismo, a Antropofágica vem desenvolvendo desde 2004 um projeto de formação de atores, com base na troca e no compartilhamento dos oito anos de pesquisa do grupo com pessoas da cidade que se interessam pelo trabalho de pesquisa teatral com foco no ator. Este projeto começou com a Oficina do Ator Antropofágico e seu aprofundamento deu origem ao núcleo PY, sem, no entanto, implicar na extinção daquela.

 

O PY é um núcleo de formação de atores de caráter contínuo e orgânico dentro da Antropofágica, que trabalha na pro- dução, criação e apreciação artística, fazendo interlocução com os demais núcleos, trabalhando em projetos artístico- pedagógicos próprios e nos projetos do núcleo ATP.

 

O Espaço Pyndorama é a sede que todos estes núcleos ocupam e, através de assembléias participativas, deliberam sobre sua utilização e seus rumos. Nele, propomos também um projeto de residência para outros núcleos artísticos da cidade, como modo de utilizar o espaço para ensaio, apresentações e compartilhamento de pesquisa.

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