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NÚCLEO PY

O Núcleo Py, ou Projeto Y, surgiu em decorrência da Oficina do Ator Antropofágico, com a turma de 2007. Alguns integrantes desse coletivo, após as atividades costumeiras, próprias da oficina, reuniam-se e debatiam sobre a pertinência de realizar um estudo mais aprofundado do fazer teatral, tanto teórico, quanto prático. Desse agrupamento surgiu o Núcleo Py, núcleo de formação orgânico e permanente da Antropofágica coordenado por integrantes do Núcleo ATP, que tem por objetivo oferecer uma formação ampla do fazer teatral aos novos integrantes do grupo, com foco especial no trabalho do ator. Tendo a trajetória da Antropofágica como referência estética e política, o Núcleo Py iniciou sua história com o estudo de textos da dramaturgia brasileira que dialogavam tanto com a estética e procedimentos da Antropofágica quanto com a pesquisa do recorte temático que o grupo desenvolvia na época: o Brasil Colônia. Desse movimento inicial se desprende um conjunto de peças que formaram a primeira base de repertório e estudo permanente do núcleo: Panorama do Fascismo, de Oswald de Andrade; Liberdade, Liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel; e Arena Conta Zumbi, de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri. Peças que se desdobraram no primeiro Repertório de Formação permanente do núcleo. O Py realiza seus estudos e ensaios no Espaço Pyndorama, o que o mantém muito próximo ao cotidiano de atividades de toda a Antropofágica. Desde o início de sua trajetória, esse contato constante com os trabalhos dos demais núcleos da Antropofágica é fundamental tanto na formação individual de cada integrante do Py quanto no desenvolvimento de seus processos coletivos de formação e criação. Desde relações diretas, como os treinamentos específicos realizados pelo Núcleo de Música, até a influência de pesquisas temáticas e formais realizadas pelo grupo como um todo. No Espaço Pyndorama o Núcleo Py realiza a maior parte das temporadas de suas peças, tendo também como procedimento, tanto pedagógico quanto estético-político, a circulação frequente por escolas públicas, praças, sedes de grupos parceiros, etc. Por ser um processo de formação o Núcleo Py se renova ciclicamente com a entrada de novos integrantes, provenientes tanto das oficinas quanto de outras trajetórias de aproximação com o grupo. Em consequência, surgem processos individuais e coletivos que não se alinham à estrutura clássica das turmas escolares, alimentando o desenvolvimento de uma formação onde o novo continuamente transforma e interfere no já existente. Também faz parte dessa renovação cíclica a conclusão do período de formação dentro do Py, que não se dá de forma linear ou cronológica, mas por uma construção orgânica do movimento entre indivíduos e coletivo, respeitando a diversidade do tempo necessário de aprendizado e amadurecimento dentro do fazer teatral. Integrantes que concluíram o processo de formação conseguiram o DRT de atuação através da comprovação de seus trabalhos dentro do núcleo, e alguns deles integram hoje o Núcleo ATP.

Repertório de Formação

Com nove anos de trabalho continuado o Núcleo Py conta hoje com um repertório básico de formação, composto por textos considerados significativos na história da dramaturgia nacional, e relevantes também para a compreensão prática da estética desenvolvida pela Antropofágica. Estes textos são continuamente re-estudados pelas sucessivas configurações do núcleo, e originaram diversas montagens livremente adaptadas. Esse ciclo de devoração configura parte importante da continuidade e coerência do projeto pedagógico desenvolvido, uma vez que os processos sucessivos em cima de um mesmo texto permitem aos coordenadores do núcleo uma base para avaliação crítica da formação realizada. Por tratar-se de um projeto sempre em aberto, este repertório é constantemente rediscutido, e novos textos são adicionados a ele de tempos em tempos.

O Panorama do Fascismo

Texto curto sem diálogos e não fabular de Oswald de Andrade, permite um trabalho de criações imagéticas e uma prática com os procedimentos épicos e dramáticos que podem extrapolar o fazer mais convencional.

 

Zumbi or not Zumby

Baseado em Arena Conta Zumbi, escrito por Guarnieri e Boal em 1965. O texto permite um trabalho de coro e a exploração da função de ator coringa. Possui passagens dramáticas que perfazem a capacidade de trabalhar com diálogos naturalistas e/ou estilizados. Seu caráter épico com forte conteúdo político metafórico reflete sobre o momento histórico das lutas em Palmares para debater o processo político interdito da ditadura militar. A estrutura de musical é muito importante para o desenvolvimento de elementos básicos para o ator como afinação, ritmo, e interpretação de canções.

 

Mas afinal o que é a Liberdade?

Baseado em Liberdade, Liberdade, de Millor Fernandes e Flávio Rangel, trata-se de uma montagem de cunho literário, que fornece substratos para entender a construção da dramaturgia de colagem, que resulta da junção de elementos díspares, que variam de textos dramáticos e teóricos a cartas, discursos, poesia, etc. A musicalidade está presente como trabalho essencial na peça e proporciona o contato com um material rico de canções do teatro político para estudo dos atores. Texto com diversos excertos da dramaturgia clássica mundial exige um trabalho de síntese na construção de personagens-fragmento, e aprofunda o estudo de formação de coros.

 

Via Crucys à Brazyleira

Baseado no texto O Pagador de Promessas de Dias Gomes, este trabalho tem características mais lineares na construção dramática da fábula narrada. Por seu caráter menos fragmentário apresenta o desafio de manter-se a continuidade dramática e a coerência psicológica das personagens. Este desenvolvimento tradicional, com começo, meio e fim, permite o entendimento de apresentação, desenvolvimento, clímax, viradas e apaziguamentos dramáticos. É o trabalho mais voltado ao estudo e aplicação das lições de Stanislavski .

 

O Grande Circo da Ideologia

Texto de ato único de autoria coletiva da Companhia do Latão. Classificado como uma farsa filosófica apresenta o desafio de experimentações de linguagem. Uma cena abertamente épica e teórica se abre para a necessidade de utilização de inúmeros recursos metalinguísticos, a fim de transmitir uma dinâmica de entendimento prático. As linguagens do circo, do palhaço e do entretenimento popular em geral são chaves para o trabalho do ator e ferramentas expostas no manejo da ideologia. Muito útil para discussão sobre o imaginário social e politização da cena em geral.

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