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LABIRINTO DE LABYRINTOZ

O projeto da Antropofágica para a 39ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo é um projeto de continuidade de nossos 20 anos dedicados à pesquisa e atuação artística na cidade. Com 27 integrantes, muitas das quais com mais de 15 anos de grupo, trabalhos e criação conjunta, o coletivo apresenta neste projeto a continuidade das estruturas de seu metabolismo, possibilitando a atividade dos núcleos de criação, pesquisa, além das atividades pedagógicas que compõem a coletividade.

 

A pesquisa deste projeto parte da imagem de uma estrutura arquitetônica, o Labirinto. O Labirinto como uma metáfora inspiradora dos processos e relações entre a arte e as problemáticas contemporâneas. Um Labirinto é um emaranhado de caminhos onde o percurso se faz de forma não linear. Diversos povos construíram labirintos e existem diversas mitologias que o abordam, como a grega, a inca e a maia. Dentre seus significados usuais, temos os que estão ligados à ideia de percurso complexo, com dificuldades e desafios em que a própria experiência de percorrê-lo transforma aquelas pessoas que o atravessam.

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Labirinto de Labirintos é uma expressão atribuída a Jorge Luís Borges, que tinha na metáfora do labirinto diversas ligações sobre como ele entendia a realidade e sua relação com a literatura. Labirintode Labirintos também aparece como verso de uma música de Chico Buarque, Janelas Abertas Nª 2.

 

Propõe-se então uma pesquisa sobre as metodologias da Antropofágica que trabalham com as formas híbridas e a pluralidade temática, tão caras a procedimentos antropófagos. Nossas peças e trabalhos criativos nascem de um conjunto de relações entre a história do grupo e suas implicações internas e externas que envolvem a cidade e o público. Esse conjunto de relações apresenta uma plataforma criativa com uma bricolagem de temas e procedimentos criativos que dão continuidade a nossa trajetória.

 

Como fruto do acúmulo desenvolvido em outros processos criativos, partimos de uma estrutura metodológica básica para nortear nossas pesquisas, e que poderia ser resumida em duas linhas principais: O princípio digestivo e a pesquisa temática. O Princípio digestivo (como comemos) se trata de uma analogia biológica, um complexo de enzimas digestivas, ou seja, a maneira como olhamos e processamos o material sobre o qual vamos nos debruçar. E a pesquisa temática (o que comemos), que neste projeto se trata do caminho labiríntico e ou do Labirinto de Labyrintoz, que abordam as questões que envolvem 8 Labirintos nos quais estamos dispostos a transitar. A saber:

Labirinto do Espectador
Labirinto da Leitura
Labirinto da Forma e do Conteúdo
Labirinto da Cultura de Massas e da Indústria Cultural
Labirinto da Crise Ambiental e da Agroecologia

Labirinto do Fascismo
Labirinto da Memória e da Identidade
Labirinto da Antropofágica

 

Cada um desses Labirintos se materializará no que estamos chamando de Experiência Criativa. As experiências criativas serão criações que envolvem a apresentação ao público de criações inéditas do grupo, com uma diversidade de obras que transitam entre formas teatrais e performáticas como o Teatro de Revista, a Ensemblaguem, o Teatro Dança etc. (ver mais sobre cada um dos labirintos e cada uma das propostas de criação na seção Pesquisa Artística).

 

Esses oito processos, uma vez apresentados ao público, serão a matéria viva para a constituição da temporada de um novo espetáculo da Antropofágica, o LABIRINTO DE LABYRINTOZ.

Junto às criações, o projeto propõe um período de estudos sobre estas temáticas. O Ciclo Labiyrintoz, que consiste na realização de Diálogos Antropofágicos e de Seminários, e o Pindorama em Revista, que consiste no debate das temáticas do grupo de estudos abertos da Antropofágica, existente há mais de uma década.

 

O material vasto passa pelo processo de digestão do grupo em um movimento de ruptura de fronteiras das temáticas. Uma estrutura digestiva que não tem a pretensão de esgotar cada uma das temáticas, e sim pensar sobre as interações e mediações que podem nascer deste jogo artístico que visa a liberdade de utilização destes elementos, tanto no nível temático como nível formal, com o intuito de ampliar e abrir campos para a composição e criação.

 

Nesta tarefa achamos que seria necessário convidar pesquisadoras e artistas para contribuírem neste trabalho, com a proposta de ampliar o repertório do grupo e trocar artisticamente. Pensando nisso, convidamos três artistas com notoriedade no teatro, na dança e no circo que realizarão treinamentos com o núcleo de atrizes e atores. Um treinamento que visa além de contribuir na digestão labiríntica, aplicar o princípio Antropofágico de devorar aquelas e aqueles que admiramos. Uma espécie de prevenção contra a autofagia e contra a gangrena de dialogar somente entre o próprio grupo.

Propomos ainda, como uma das ações comemorativas de nossos 20 anos, a realização da Mostra Antropofágica 20 Anos, que será composta por algumas obras realizadas pela Antropofágica em sua trajetória e que marcaram períodos específicos do grupo.

 

Outra parte imprescindível do projeto é a manutenção do que chamamos de Metabolismo Antropofágico, mais um expediente emprestado da biologia para ajudar na compreensão das estruturas constitutivas do grupo. A Antropofágica possui uma estrutura que se compõe dos núcleos de trabalho e pesquisa, das duas sedes e do programa pedagógico. Em resumo, trata-se do conjunto de vivência e trabalho estabelecido pelos vários núcleos, que pensam conjuntamente o projeto e atuam para a sua realização: o Núcleo ATP, e criação envolvendo as áreas de atuação, dramaturgia, direção, luz, cenário e figurino; O Núcleo de Música, elaborando, compondo e executando as composições nas peças, assim pondo em prática o diálogo entre as duas linguagens; A Formação Antropofágica, um núcleo pedagógico que visa no contato com educandos a uma troca que fomente o aprendizado de elementos teatrais bem como à formação de público. Este processo é realizado por integrantes do Núcleo ATP que se dedicam à atividade formativa como constante renovação e troca, realizada através das Oficinas de Teatro da Antropofágica e do Núcleo Py de formação para a atuação.

 

O Núcleo Py surgiu em 2007, apesar de estar vinculado às atividades formativas, possui especificidades, como ser um núcleo permanente de aprendizes voltado, principalmente, à formação e aprendizado da atuação. Possui um caráter contínuo desde sua formação com diversas turmas já existentes, seus integrantes estudam e produzem teatro em processos criativos advindos de projetos artístico-pedagógicos próprios.

 

No que tange a dimensão territorial, dois espaços são fundamentais para os trabalhos do grupo: O Teatro Pyndorama, existente desde agosto de 2007, e o Território Cultural Okaracy, presente desde 2016. O Teatro Pyndorama, localizado no centro, é a sede que todos os núcleos artísticos da Antropofágica ocupam e na qual realizam suas atividades. É também no Pyndorama que ocorre grande parte das atividades criativas (ensaios, estudos, etc.) e atividades abertas ao público (apresentação de peças, seminários e grupos de estudo). O Território Cultural Okaracy, localizado no bairro de Perus, é o espaço de caráter comunitário/rural na periferia da cidade onde realizamos os encontros e pesquisas ligadas ao teatro de feira, estudos da relação performática e da agroecologia. Conjuntamente às atividades artísticas, Okaracy cumpre uma função comunitária e participativa por ter sido construído junto às comunidades das áreas adjacentes, sendo espaço para atividades de confraternização da comunidade, encontros organizativos e festas.

 

A Antropofágica completa 20 anos propondo a sexta edição da Revista Bucho Ruminante e a produção de um documentário sobre as duas décadas do grupo como ações de memória e registro dessa história.

 

Esperamos que esta apresentação possa contribuir como um panorama inicial das ações, estruturas e procedimentos propostos para este caminhar labiríntico entre a trajetória do grupo e as questões que pretendemos nos debruçar, que integra nossa busca permanente acerca do papel social e artístico do teatro e suas capacidades de responder criticamente à realidade, articulando pesquisa e criação teatral em frentes variadas de inserção territorial.

 

Um projeto-caminho diante do Labirinto de Labyrintoz.

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