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[D.E.T.O.X.]

DEVISING EXPERIMENTAL DA TOXICOLOGIA DO OBJETO X

Este é um projeto de continuidade dos quinze anos de trabalho teatral coletivo da Antropofágica, que busca abarcar a totalidade de seu diálogo artístico com a cidade de São Paulo. Com mais de trinta integrantes, muitos dos quais com mais de 10 anos de trabalhos conjuntos e ininterruptos, o grupo busca desde sua origem devolver à cidade criações e experiências cênico-musicais que sejam alimento para o livre pensar.

Para além da criação teatral, o grupo compreende como parte inerente de sua pesquisa de linguagem o constante desenvolvimento de práticas artísticas coletivizantes, sintetizadas no que chamamos de Metabolismo Antropofágico, conjunto de estruturas fundamentais ao diálogo público estabelecido pela Antropofágica. Parte fundamental desse diálogo é a Formação Antropofágica, frente pedagógica permanente desenvolvida há mais de doze anos na cidade, travando um profícuo dialogo entre as práticas criativas teatrais e processos pedagógicos.

Em síntese, nossa poética se apoia em uma reflexão permanente sobre o papel social do teatro e suas capacidades de responder criticamente à realidade. Nesse sentido, as ações, estruturas e procedimentos propostos neste projeto configuram um mecanismo múltiplo, que articula pesquisa e criação teatral em frentes variadas de inserção territorial.

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O estímulo disparador de [D.E.T.O.X]: Não há duvida de que os trabalhos do modernismo brasileiro trazem elementos para pensar a relação entre humanidade e natureza. A música de Villa-Lobos por exemplo, uma espécie de epopéia sonora da biomassa, evoca o sol, a Terra, a água, a floresta. O maestro dizia que sua obra era farta, em larga medida, por ser fruto de uma terra imensa ardente e generosa. Em semelhante sentido outro legado modernista é o Manifesto Antropófago, que em 2018 celebra os 90 anos de sua escrita. Do texto de Oswald de Andrade a Antropofágica deriva a base de seus procedimentos criativos, calcada em diversas referências metafóricas que aludem às relações da Modernidade aclimatada ao bioma brasileiro: a floresta e a escola, América do Sol / América do Sul, a figura do bárbaro tecnizado, as manifestações culturais dos povos originários como postura crítica ao processo de modernização eurocêntrica.

Este imaginário sempre esteve presente nos trabalhos e pesquisas do grupo, mas adquiriu novas significações, ao longo dos últimos dois anos, a partir da troca de experiências com a comunidade rural do bairro Chácara Maria Trindade. As práticas agroecológicas desenvolvidas pelas famílias da região, colocadas ao lado da bagagem de referências do modernismo brasileiro, desperta profundas implicações ambientais desse conjunto de pensamento artístico.

A partir dessa relação estabelecida, surge a necessidade de aprofundarmos nossas pesquisas acerca das questões eco-ambientais contemporâneas, a fim de operar a ponte entre um pensamento desenvolvido no início do século XX e os processos de devastação do planeta atualmente em curso. Uma proposta de pesquisa que procuramos sintetizar no conceito de Modernidade Tóxica. Uma ampla toxicologia dos muitos projetos modernos que cohabitam em terra brasilis, abrangendo desde as questões do manejo ecológico do solo como oposição aos agrotóxicos industriais até a dimensão metafórica do conceito de tóxico presente na arte, na literatura, no teatro e em manifestações diversas da indústria cultural.

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