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101 ABaCaXYZ
PARA VER EM CENA ANTES DE MORRER

O projeto da Antropofágica contemplado pela 34ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo é um projeto de continuidade dos 17 anos do grupo dedicados à pesquisa e atuação artística na cidade. Com 27 integrantes, muitas das quais com mais de 15 anos de grupo e de trabalhos e criação conjunta, o coletivo apresenta neste projeto a continuidade e manutenção de seu metabolismo, possibilitando a atividade os núcleos de criação, pesquisa, além das atividades artísticas e pedagógicas que compõem a coletividade.

A pesquisa deste projeto liga-se a uma série de reflexões que temos travado recentemente sobre as relações entre a arte e as problemáticas contemporâneas. Neste projeto, diferente dos outros, o recorte temático ex- põe uma dimensão de abrangência panorâmico-documental que envolve algumas perguntas básicas: quais são as problemáticas e tensões presentes em nosso tempo? Como elas se relacionam historicamente no processo de constituição da brasilidade? Quais seriam as possibilidades cênicas e artísticas de articular esta série de implicações? Como as pessoas em suas dimensões de indivíduos, seres sociais e espécie afetam-se e atuam diante de tais abacaxis?

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Foi partindo destas perguntas que surgiu a imagem do título: 101 ABa- CaXYZ para Ver em Cena Antes de Morrer. Uma espécie de provocação-síntese e proposta metodológica para processar criativamente as implicações variadas sugeridas por tais perguntas. Título antropofágico que articula o gênero textual lista, o abacaxi como metáfora, a dimensão episódica e contínua da forma série e o sentimento de fim presente na palavra morte. Dispositivos que encontramos para instituir um ponto de partida para a criação. Como possibilidades de ação propomos uma deriva pela cidade com uma performance documental denominada Teatro de Rede, na qual junto à população pretendemos “colher” abacaxis nos quatro cantos da cidade, tomando essa busca como elemento constitutivo de nossa sala de ensaio, e desaguando na criação da primeira temporada de uma série teatral de cinco episódios que busca articular a investigação dos abacaxis (problemas, querelas, dificuldades etc) que afetam o mundo contemporâneo.

Como fruto do acúmulo desenvolvido em outros processos criativos, partimos de uma estrutura metodológica básica para nortear nossas pesquisas, e que poderia ser resumida em duas linhas principais: O princípio digestivo e a pesquisa temática. O princípio digestivo (como comemos) se trata de uma analogia biológica, um complexo de enzimas digestivas, ou seja, a maneira como olhamos e processamos o material sobre o qual vamos nos debruçar. E a pesquisa temática (o que comemos), que neste projeto parte das possíveis variações metafóricas e provocativas contidas no título 101 ABaCaXYZ para Ver em Cena antes de Morrer.

Outra parte imprescindível do projeto é a manutenção do que chamamos de Metabolismo Antropofágico, mais um expediente emprestado da biologia para ajudar na compreensão das estruturas constitutivas do grupo. Em resumo, trata-se do conjunto de relações de vivência e trabalho estabelecido pelos vários núcleos, que pensam conjuntamente o projeto e atuam para a sua realização: o Núcleo ATP, de criação envolvendo as áreas de atuação, direção, luz, cenário e figurino; o Núcleo de Música, elaborando, compondo e executando as composições nas peças, assim como pondo em prática o diálogo entre as duas linguagens; a Formação Antropofágica, composta por integrantes do Núcleo ATP que se dedicam à atividade pedagógica como forma de constante renovação e troca, realizando as atividades das Oficinas de Teatro Antropofágico, Koral Antropofágico, Antropobatuke e o Núcleo Py.

 

O Núcleo Py, surgido em 2007, apesar de pertencer à Formação Antropofágica, tem algumas especificidades que merecem ser brevemente mencionadas aqui. É um núcleo de formação teatral permanente voltado à atuação. Possui um caráter contínuo onde seus integrantes estudam e produzem teatro em processos criativos advindos de projetos artístico-pedagógicos próprios.

No que tange nossa dimensão territorial, dois espaços são fundamentais para os trabalhos do grupo: o Espaço Pyndorama, existente desde agosto de 2007, e o Espaço de Monhangokaracy, presente desde 2016. O Espaço Pyndorama é a sede que todos os núcleos artísticos da Antropofágica ocupam e na qual realizam suas atividades. É também no Pyndorama que ocorre grande parte das atividades criativas (ensaios, estudos, etc) e atividades abertas ao público (apresentação de peças, seminários e grupos de estudo). O Espaço de Monhangokaracy, localizado no bairro de Perus, é o espaço onde realizamos nossas pesquisas ligadas ao Teatro de Feira, estudos de relação performática e agroecologia. Para além das atividades artísticas, o Espaço de Monhangokaracy cumpre uma função comunitária: um espaço construído conjuntamente às comunidades das áreas adjacentes. Neste projeto, conjuntamente às atividades cotidianas da Antropofágica, realizaremos o II Festival de Teatro e Artes de Monhangokaracy, que irá promover a apresentação de diversos coletivos artísticos, constituindo assim um amplo diálogo entre a produção cultural da cidade.

A Antropofágica completará 18 anos em 2020, ano que também lançará a 5a edição da revista Bucho Ruminante, e um álbum musical Antropofágica 18 Anos, dando continuidade ao processo contínuo de registro de sua trajetória.

 

Esperamos que esta apresentação possa contribuir como um panorama inicial das ações, estruturas e procedimentos propostos que integram nossa busca permanente acerca do papel social e artístico do teatro e suas capacidades de responder criticamente à realidade, articulando pesquisa e criação teatral em frentes variadas de inserção territorial.

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